Toda a representação pelo desenho transporta as formas para o plano usando técnicas materiais e conceptuais, que resultam do que os materiais permitem, mas também do saber e da imaginação do desenhador.

A caricatura é uma síntese e – o que se diria em retórica – uma hipérbole. Ela selecciona elementos distintivos do seu objecto, omitindo outros de menor expressividade, e exagera aqueles que quer enfatizar. Não sendo fiel às formas que vê, ela procura captar a essência da identidade que pretende representar.

Isto faz quase sempre da caricatura um desenho bem humorado. Mesmo quando não é explícita essa intenção, diverte-nos a distorção e a surpresa de reconhecermos o real em traços inusitados.

Mas poderá perguntar-se: sendo tipicamente a caricatura o desenho do rosto e da figura humana, cuja identidade, para além das formas, se faz de vida e expressão, faz sentido o mesmo exercício conceptual tendo como objecto uma paisagem inerte?

Embora possa ser tentador responder que não, essa seria uma resposta precipitada. Pensar que uma paisagem urbana não carrega vida e expressão seria omitir muito do seu significado, apagando tudo o que está por trás da sua construção.

A paisagem urbana é a expressão da comunidade que a cria, da sua idiossincrasia e das suas circunstâncias. Ela materializa o seu saber e os seus meios, os seus estilos e tradições, as suas regras e as suas motivações. Ela soma decisões de construir, conservar e destruir. E ela testemunha o seu processo histórico, as suas influências e interacções. Tudo isto num contexto geográfico e climático também ele condicionante e distintivo.

Longe de ser vazia de expressão, a paisagem urbana acrescenta à sua base natural a expressão colectiva das comunidades que as constroem ao longo dos séculos e que, frequentemente, são razão maior do seu contentamento e orgulho.

Frederico Rogeiro