Quando comecei a fazer estes desenhos, comecei por passá-los para a tela e pintá-los com tinta acrílica. Mas acabei por dedicar-me apenas ao desenho, que no fim é digitalizado e colorido pela pintura digital.

Aconteceu assim porque tratando-se de manchas homogéneas de cor, não senti que acrescentasse nada de essencial ao resultado aquele trabalho suplementar. Um quadro pintado em tela tem outro valor, isso é inegável, mas sendo os desenhos pensados para a reprodução impressa, achei que fazia sentido dar prioridade (e tempo) aos desenhos.

Os estilos pictóricos não são apenas formulações abstractas e conceptuais. Eles nascem de factores práticos, muitas vezes limitativos. Os materiais disponíveis, as técnicas que se dominam e até uma economia do seu uso face às finalidades. Até a condição física (como a fraca visão de Monet, que se diz ter estado na origem do Impressionismo), ou traços psicológicos, como a impaciência ou a rebeldia, ajudam a explicar certos estilos que, no entanto, para além do que seja a sua história, valem pelo seu resultado.

Neste caso, a simplicidade da pintura mantém a clareza do desenho, em que se concentra todo o exercício de interpretação da realidade. Ao mesmo tempo, esta pintura forma um código de leitura dos materiais representados, comum a toda a colecção, que acaba por ser uma marca da sua unidade.

Frederico Rogeiro